O sequestro de um avião da Varig para Cuba, feito por
dois cearenses moradores do Conjunto Ceará, completou recentemente 36 anos. O
desvio do Boeing Airbus da Varig-Cruzeiro, prefixo PP-CLB, ganhou manchetes
internacionais, virou documentário dirigido por Bené Saboia.
João Luiz de Araújo e Fernando Antônio Santiago promoveram
o sequestro no dia 3 de fevereiro de 1984. Eles embarcaram em Fortaleza, num
voo que seguia para Manaus. Depois da escala em São Luiz obrigaram o comandante
a desviar o avião para Cuba.
O voo contava com 158 passageiros que tiveram que descer
em Paramaribo, capital do Suriname, após uma série de negociações com os rapazes e a Embaixada do Brasil naquele país. De lá, a aeronave foi
levada para a ilha de Fidel Castro.
O avião pousou em Camaguey, enquanto a pista foi tomada
por militares que levaram os cearenses para um interrogatório. Tanto João
quanto Fernando contam que foram interrogados durante três dias pela polícia
cubana, interessada mais em conhecer pormenores do processo de reabertura
democrática que estava sendo anunciada pelo governo da ditadura. João
Figueiredo estava no poder.
“A nossa ação naquela época pode ter
surpreendido a muitas pessoas” conta João Luiz no documentário,
desfazendo a ideia de que se tratavam de jovens sem nenhuma vinculação com os
movimentos de esquerda. No Brasil, chegou-se a comentar que se tratava de um
episódio completamente fora do contexto.
Até o escritor Fernando Morais, cujo “A Ilha”, teria sido
o inspirador da dupla para a ação, surpreendeu-se na época. “Essa é uma história completamente espantosa.
Jamais poderia passar pela minha cabeça, no dia que sentei à máquina para
escrever esse livro, que três garotos fossem sair de Fortaleza, entrar num avião,
tocar um revólver na cabeça e dizer ao comandante: toca pra Cuba”, contou
Fernando Morais.
Na verdade, o sequestro envolveu uma outra figura,
Raimunda Santiago, esposa de Fernando na época, que se juntou aos dois
interessada em viver a realidade que se propagava de Cuba naquela ocasião.
Atualmente João Luiz, que se formou em Psicologia em
Cuba, atende a população carente numa
unidade do Capes, em Ipueiras, no interior cearense. Já Fernando mora em Minas
Gerais. Raimunda, separada de Fernando, pediu para que seu nome fosse esquecido
desse episódio.
O cineasta Bené Sabóia, conta a história num documentário
feito em 2001 intitulado o “Último Pau de Arara”.
Infelizmente a equipe do nosso blog não conseguiu contato
com os participantes do episódio.
Via Tribuna do Ceará
Texto: Nonato Albuquerque.
4 Comentários
Espetacular essa história. Viva o talentoso Nonato Albuquerque. O melhor é mais digno comunicador do mundo.
ResponderExcluirQue história louca. Lembro qu eu como militante do do Movimento Popular, articulado com a Cidade, conhecia os 3 sequestradores e que o João e Fernando passaram em minha casa três dias antes do sequestro e não falaram nada.
ResponderExcluirEstávamos junto com Rui Holanda, organizando o povo das margens do Rio Maranguapinho na área da Granja Portugal junto à Jornada de Luta Contra a Fome.
De repente a surpresa do sequestro.
Entrevistei o empresário cearense Nelson Otoch, que estava no voo e foi confundido com o terceiro sequestrador. A história, hoje, pitoresca e divertida, foi de um sofrimento terrível para os passageiros.
ResponderExcluirNos anos de chumbo, muitas foram as iniciativas parecidas com esta. Os jovens eram mais autênticos e mais preocupados com as coisas da politica.
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